sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

POR QUE OYÁ É REVERENCIADA POR EGUNGUN?

Itán: Oyá dá a luz a Egungun
Oyá não podia ter filhos e foi buscar o conselho de um babalawô, que revelou que ela só poderia ter filhos se fosse possuída com violência por um homem.
Um certo dia, Xangô a tomou de forma violenta e deste ato nasceram nove filhos, onde oito deles eram mudos.
Oyá procurou novamente o babalawô que recomendou oferendas, e assim ela fez.
Tempos depois nasceu mais um filho de Oyá que não era mudo, mas tinha uma voz estranha, rouca, profunda e cavernosa.
Esse filho se chamava Egungun, o antepassado que fundou cada família.
Hoje, quando Egingun volta para dançar entre seus descendentes, usando ricas máscaras e roupas coloridas, somente diante de uma mulher ele se curva.
Somente diante de Oyá, sua mãe, Egungun se curva.

POR QUE A GUIA DE XANGÔ É VERMELHO E BRANCO?

Itán: Xangô ganha de Oxalá um colar vermelho e branco

Xangô foi um filho muito rebelde e saía pelo mundo fazendo o que queria.
Seu pai Oxalá era informado de seus atos, recebendo diversas queixas das artes de seu filho. Sempre Oxalá justificava os atos do filho pelo fato de não ser criado perto dele, mas aguardava o dia em que Xangô se submeteria a ele.
Na ocasião, Xangô estava na casa de uma de suas mulheres e havia deixado seu cavalo amarrado à porta da casa.
Oxalá e Odudua passaram por lá e levaram o cavalo.
Xangô logo percebeu o roubo, partindo em busca do animal, quando foi informado que dois velhos que por ali passavam, levaram seu animal.
Xangô saiu em seu encalço, e na perseguição encontrou Oxalá e o enfrentou.
Oxalá não se intimidou diante do rapaz e exigiu dele respeito e submissão, ordenando: “Kunlé! Foribalé!” (Ajoelhe-se! Prostre-se no chão aos meus pés!). E Xango desarmado atirou-se no solo, deixando-se dominar por Oxalá.
Xangô, que já possuía um colar de contas vermelhas, teve seu colar tomado por Oxalá, onde ele o desfez, inserindo também contas brancas alternadas com as contas vermelhas já existentes.
Oxalá entregou à Xangô seu novo colar, e a partir daí, todos saberiam que Xangô era filho de Oxalá.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

POR QUE OXOSSI É REI DE KETU?

Itán: Oxossi ganha de Orunmilá a cidade de Ketu

Um certo dia, Orunmilá precisava de um pássaro raro para fazer um feitiço de Oxum.
Ogum e Oxossi saíram em busca da ave pela mata a dentro, nada encontrando por dias seguidos.
Numa manhã, porém, restando apenas um dia para a realização do feitiço, Oxossi se deparou com a ave e percebeu que só lhe restava uma única flecha.
Mirou, com precisão e atingiu a ave.
Quando voltou à aldeia, Orunmilá estava encantado e agradecido com o feito de Oxossi, por sua determinação e coragem, oferecendo assim a cidade de Ketu para que ele governasse até sua morte, e fazendo de Oxossi o Orixá da caça e senhor das florestas.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE OSSAIM SÓ TEM UMA PERNA?

Itán: Ossaim é multilado por Orunmilá
Ossaim vivia numa guerra não declarada com Orunmilá, procurando sempre enganá-lo, preparando sempre armadilhas para transtorno do velho.
Um dis Orunmilá procurou Xangô a fim de descobrir quem seria o inimigo oculto que o atormentava tanto.
Xangõ o aconselhou a fazer oferendas com doze mechas de algodão em chamas e doze pedras de raio (edum ará).
Se isso fosse feito, o segredo seria desvendado.
Ao iniciar o ritual, Orunmilá invocou o poder do fogo. E nesse mesmo momento, Ossaim andava pela mata procurando algo para enfeitiçar Orunmilá.
Ossaim foi surpreendido com um raio que mutilou sua perna e lhe cegou um olho.
Orunmilá seguiu para o local de onde se via o fogo na mata e ouviu os gemidos do aleijado.
Ao tentar ajudar a vítima, deparou-se com Ossaim, descobrindo assim quem era o misterioso inimigo.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE OXOSSI É REI DE KETU? – 2

Itán: Oxossi é feito rei de Ketu por Oxum
Oxossi ia para uma caçada buscar comida para sua gente, quando avistou Oxum nas águas doces.
Encantou-se imediatamente com sua beleza, com seu deslumbramento nas águas cintilantes.
Oxossi entrou no rio para alcançar o Orixá e lá ficou de amores com Oxum, esquecendo-se da fome que sua tribo passava.
Seus companheiros sentiram-se traídos e começaram a atirar flechas em Oxossi.
Oxum, que já estava enamorada por Oxossi, começou a cantar uma cantiga de encantamento para defendê-lo das mortíferas flechadas:
“A ti re okê
A ti re nu bale ba re io”
Dos perseguidores, Oxossi teve que fugir, sendo guiado por Oxum, onde encontraram guarida na cidade de Ketu. E lá, Oxum deu à Oxossi o posto de rei, o Alaketu.
Assim, Oxossi, o caçador, também se tornou rei de Ketu.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE LOGUN EDÉ É CHAMADO DE METÁ-METÁ E COMO ELE SE TORNOU ORIXÁ?

Itán: Logun Edé rouba segredos de Oxalá
Logun Edé era um caçador solitário, infeliz e orgulhoso. Era também pretensioso, ganancioso e acostumado com bajulação devido a sua incomum e extraordinária formosura.
Um dia Oxalá conheceu Logun Edé e o levou para conviver em sua casa sob a sua proteção, dando-lhe também companhia, sabedoria e compreensão.
Mas Logun Edé queria muito mais que isso e roubou os segredos de Oxalá. Segredos esses que Oxalá deixava à mostra, confiando na honestidade de Logun.
O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô, deu as costas à Oxalá e fugiu.
Não tardou Oxalá dar-se conta da traição do caçador, que fez vários sacrifícios que cabia a oferecer, e muito calmamente sentenciou que, toda vez que Logun Edé usasse seus segredos, todos deveriam dizer: “Que maravilha o milagre de Oxalá!”.
Toda vez que usasse seus segredos, alguma arte não roubada iria faltar.
Com o tempo, Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a penalidade imposta.
O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação.
Oxalá então determinou que Logun Edé fosse homem durante um período, e no outro fosse mulher.
Nunca haveria a possibilidade dele ser completo, e teria a sina de sempre começar tudo novamente.
Mesmo assim, a sentença ainda era nada para o orgulhoso Odé, e para que o castigo durasse por toda eternidade, Oxalá fez de Logun Edé um Orixá.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE OYÁ É REVERENCIADA POR EGUNGUN?

Itán: Oyá dá a luz a Egungun
Oyá não podia ter filhos e foi buscar o conselho de um babalawô, que revelou que ela só poderia ter filhos se fosse possuída com violência por um homem.
Um certo dia, Xangô a tomou de forma violenta e deste ato nasceram nove filhos, onde oito deles eram mudos.
Oyá procurou novamente o babalawô que recomendou oferendas, e assim ela fez.
Tempos depois nasceu mais um filho de Oyá que não era mudo, mas tinha uma voz estranha, rouca, profunda e cavernosa.
Esse filho se chamava Egungun, o antepassado que fundou cada família.
Hoje, quando Egingun volta para dançar entre seus descendentes, usando ricas máscaras e roupas coloridas, somente diante de uma mulher ele se curva.
Somente diante de Oyá, sua mãe, Egungun se curva.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE A GUIA DE XANGÔ É VERMELHO E BRANCO?

Itán: Xangô ganha de Oxalá um colar vermelho e branco
Xangô foi um filho muito rebelde e saía pelo mundo fazendo o que queria.
Seu pai Oxalá era informado de seus atos, recebendo diversas queixas das artes de seu filho. Sempre Oxalá justificava os atos do filho pelo fato de não ser criado perto dele, mas aguardava o dia em que Xangô se submeteria a ele.
Na ocasião, Xangô estava na casa de uma de suas mulheres e havia deixado seu cavalo amarrado à porta da casa.
Oxalá e Odudua passaram por lá e levaram o cavalo.
Xangô logo percebeu o roubo, partindo em busca do animal, quando foi informado que dois velhos que por ali passavam, levaram seu animal.
Xangô saiu em seu encalço, e na perseguição encontrou Oxalá e o enfrentou.
Oxalá não se intimidou diante do rapaz e exigiu dele respeito e submissão, ordenando: “Kunlé! Foribalé!” (Ajoelhe-se! Prostre-se no chão aos meus pés!). E Xango desarmado atirou-se no solo, deixando-se dominar por Oxalá.
Xangô, que já possuía um colar de contas vermelhas, teve seu colar tomado por Oxalá, onde ele o desfez, inserindo também contas brancas alternadas com as contas vermelhas já existentes.
Oxalá entregou à Xangô seu novo colar, e a partir daí, todos saberiam que Xangô era filho de Oxalá.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE CARNEIRO É KIZILA DE IANSÃ?

Itán: Iansã é traída pelo carneiro
Um dia Oxum e outro alguém queriam fazer mal a Iansã, e colocaram um feitiço num bracelete de Oxum e o puseram dentro de uma caixa para que fosse entregue à Iansã.
Agbô foi chamado para levar esse presente para Iansã.
Agbô era dono dos carneiros, dono dos agbôs, e tudo que corria pelo palácio era espalhado pela língua de Agbô, o Carneiro.
Mas Iansã com sua intuição aguçada, pressentiu o que lhe vinha por meio de Agbô, e então ela foi ao encontro do Carneiro sob a forma de vento, e abriu a caixa, trocando o bracelete por um pequeno pássaro.
Agbô foi o instrumento contra Iansã, e Iansã sentiu-se traída por ele.
Desde então Iansã odeia carneiros e não aceita comê-los.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

POR QUE XANGÔ COME EM GAMELA?

Itán: Xangô é condenado por Oxalá a comer como os escravos
Xangô Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para leva-lo à festa que faziam em sua cidade.
Oxalá era velho e lento, por isso Airá o levava nas costas.
Quando se aproximavam do destino, viram a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu palácio.
Airá levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio.
E foi lá de cima que Airá avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela.
Era Oyá!
Era o amaçá do rei que ela preparava!
Xangô Airá não resistiu a tamanha tentação.
Oyá e amalá! Era demais para sua gulodice, depois de tanto tempo na estrada.
Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio as pedras, rolando na poeira, caindo nas valas.
Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos que atingiram diretamente o povo de Xangô.
Xangô muito arrependido, mandou o povo todo trazer água fresca e panos limpos.
Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá, que aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames que, por dias, o povo lhe ofereceu.
Mas Oxalá impôs um castigo eterno à Xangô, pois como ele apreciava tanto se fartar de boa comida, nunca mais poderia comer em prato de louça ou porcelana.
Nunca mais Xangô poderia comer em alguidar de cerâmica, já que só poderia se alimentar em gamela de pau, como comem os bichos da casa, o gado e como comem os escravos.
Fonte: PRANDI. Reginaldo. Mitologia dos Orixás.

LOGUM EDÉ/ LOGUNEDÉ

“Erinlè teria tido, com Oxum Ipondá, um filho chamado Lógunède (Logunedé), cujo culto se faz ainda, mas raramente, em Ilexá, onde parece estar em vias de extinção.”
“No Brasil, tanto na Bahia como no Rio de Janeiro, Logunedé tem, entretanto, numerosos adeptos. Esse deus tem por particularidade viver seis meses do ano sobre a terra, comendo caça, e os outros seis meses, sob as águas de um rio, comendo peixe. Esse deus, segundo se conta na África, tem aversão por roupas vermelhas ou marrons. Nenhum dos seus adeptos ousaria utilizar essas cores no seu vestuário. O azul-turquesa entretanto parece ter sua aprovação. É sincretizado na Bahia com São Expedito.”
Hoje, na Nigéria, a mais rica cidade chama-se Ilesa, e é a cidade de Logun Ede, que para muitos é metade homem e metade mulher, o que não é verdade. Logun Ede é um santo único, um Orixá rico que herdou tanto a beleza e agilidade do pai quanto a beleza e riqueza da mãe. Em Ilesa, uma das cidades mais prósperas da África, encontra-se o palácio de Logun Ede.
… a mãe criadora
Conta a lenda que Osun teve uma grande paixão na sua vida: Osossi, mais na época era casada com Ògún e não podia ter nada com Osossi. Numa das saídas de Ògun para guerrear, Osun encontrou Osossi e dele ela engravidou. Nove meses depois, quando a criança estava para nascer, Ògún mandou recado que estava regressando. Osun não podia mostrar a ela a criança. Ela deu a luz a um menino e o pôs em cima de um lírio e ali o deixou e foi embora. Iansã passando viu aquela criança e sabia que era de Osun, pegou e criou Logun Ede. Iansã o ensinou a caçar e pescar. Logun Ede viveu com Iansã durante muito tempo.
… o reencontro
Certo dia Logun Ede saiu para caçar. Quando estava no topo de uma cachoeira, olhou para baixo e viu uma linda mulher sentada nas pedras, tomando banho e se penteando. Ele ficou fascinado pela beleza desta mulher. Aí ele desceu e ficou olhando-a escondido. Osun com seu abebe (espelhinho) viu que havia um homem a observando. Virou o abebe para ele. Neste momento Logun Ede se encantou e caiu nas águas em forma de cavalo marinho. Iansã quando soube, correu atrás de Osun e disse a ela que aquele menino que ela havia encantado era seu filho: Logun Ede, que um dia ela havia deixado em cima de um lírio. Osun desfez o encantamento e disse que apartir daquele dia Logun Ede viveria seis meses na terra como o pai, comendo da caça e seis meses viveria como a mãe, comendo do peixe.
… fascínio
Logun Ede, o menino caçador, andava pelos matos quando um certo dia, passando pela beira do rio Alaketu, ele viu no meio do rio um palácio muito bonito. Voltou para sua cidade, relatou a beleza deste palácio e sua vontade de ir até lá. Disseram a ele que era o palácio de Osun, Lugar em que nenhum homem punha os pés. Passou-se o tempo e Logun Ede não encontrava um meio de ir até lá. Um certo dia, encontrou sua mãe de criação, Iansã, que lhe confirmou que no palácio de Osun nenhum homem punha os pés e ele só conseguiria entrar se se vestisse como mulher. Logun Ede fascinado e obcecado pelo palácio pediu a Iansã que lhe arrumasse os trajes adequados. Depois de arrumado, pegou sua jangada e se pôs no rio a caminho de palácio.
Chegando em terra cantou:
Alaketo-ê
Ala Ni Mala
Ala Ni Mala
okê
Este oro foi cantando em saudação às águas e pedia permissão à dona do palácio para sua entrada. Abriram-se os portões e Logun Ede entrou e no meio das mulheres Osun reconheceu seu filho. Disse que apartir daquele dia Logun Ede usaria saia, que lhe daria o direito de reinar ao seu lado.
… o belo
Logun-Edé era filho de Osun e Osóssi. Sem poder viver no palácio de Osun, foi criado por Oiá na beira do rio. Osóssi seu pai, era demasiado rude e não conseguia conviver com o filho, sumindo por longo tempo em suas caçadas. Logun, afeiçoado pela mãe, vez por outra ia ao palácio de Sango, onde Osun vivia. Logun vestia-se de mulher pois Sango era ciumento e não permitia a entrada de homens em sua morada. Assim, Logun passava dias e dias vestido de mulher mas na companhia de sua mãe e das outras rainhas.
Um dia houve uma grande festa no orun à qual todos os orisás compareceram com seus melhores trajes. Logun-Edé, que vivia na beira do rio a caçar e pescar não possuía trajes belos. Foi então que vestiu-se com as roupas que Osun lhe dera para disfarçar-se e com elas foi à grande recepção. Ao chegar, todos ficaram admirados com a beleza de Logun-Edé, e perguntavam: “Quem é esta formosura tão parecida com Osun?”. Ifá, muito curioso, chegou perto do rapaz e levantou o filá que cobria seu rosto. Logun-Edé ficou desesperado e saiu da festa correndo, com medo que todos descobrissem sua farsa. Entrou na floresta correndo e foi avistado por Osóssi que o seguiu, sem reconhecê-lo, encantado com sua beleza. Logun-Edé, de tanto correr fugindo à perseguição do caçador, caiu cansado. Osóssi então atirou-se sobre ele e possuiu-o ali mesmo.
… amado por Osóssi e Ósum
Estava Òsóssì o rei da caça a caminhar por um lindo bosque em companhia de sua amada esposa Òsún, dona da beleza da riqueza e portadora dos segredos da maternidade. Quando de seu passeio, foi avistado por Òsún um lindo menino que estava a beira do caminho a chorar, encontrando-se perdido, Òsún de pronto agrado, acolheu e amparou o garoto, onde surgiu nesse exato momento uma grande identificação, entre ele, Òsún e Òsóssì.
Durante muitos anos Òsún e Òsóssì, cuidaram e protegeram-lhe, sendo que, Òsún procurou durante todo esse tempo a mãe do menino, porém sem sucesso, resolveu te-lo como próprio filho. O tempo foi passando e Òsóssì, vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o com pele de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como manejar e empunhar o arco e a flecha, ensinou os princípios da confraternidade para com as pessoas e o dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia e a destreza, provenientes de um verdadeiro caçador. Òsún por sua vez, ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom da elegância e da vaidade, ensinou a arte da feitiçaria, o poder da sedução, a viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces, ensinou seus segredos e mistérios.
Foi batizado por sua mãe e por seu pai de Lógún Edé, o príncipe das matas e o caçador sobre as águas. Viveu durante anos sobre a proteção de pai e mãe, tornando-se um só, aprendendo a ser homem, justo e bondoso, herdando a riqueza de Òsún e a fartura de Òsóssì, adquirindo princípios de um e princípios de outro, tornando-se herdeiro até nos dias de hoje de tudo que seu pai Òsóssì carrega e sua mãe Òsún leva.
…oxum ipondá e erinlé
Um dia Oxum Ipondá conheceu o caçador Erinlé e por ele se apaixonou perdidamente. Mas Erinlé não quis saber de Oxum. Oxum não desistiu e procurou um babalaô. Ele disse que Erinlé só se sintia atraído pelas mulheres da floresta, nunca pelas do rio. Oxum pagou o babalaô e arquitetou um plano: Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo chão da mata.
Agora sim, disfarçada de mulher da mata, procurou de novo seu amor.
Erinlé se apaixonou por ela no momento em que a viu. Esquecendo-se das palavras do adivinho, Ipondá convidou Erinlé para um banho no rio. Mas as águas lavaram o mel de seu corpo e as folhas do disfarce se desprenderam. Erinlé percebeu imediatamente como tinha sido enganado e abandonou Oxum para sempre.
Foi-se embora sem olhar para trás. Oxum estava grávida; deu à luz a Logun Edé.
Logun Edé é a metade Oxum, a metade rio, E é metade Erinlé, a metade mato. Suas metades nunca podem se encontrar.
Ele habita num tempo o rio e noutro o mato. Com o Ofá, arco e flecha que herdou do pai, ele caça. No abebé, espelho que recebeu da mãe, ele se admira.

EWÁ

Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida…
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.

Cargos Hierárquicos


Abian: Em yorubá significa "aquele que vai nascer". Aspirante que ainda não passou pelo processo de iniciação.

Iaô: Iniciado. Termo que designa o noviço após a fase de reclusão iniciatória.

Ebomi: Título dado ao Iaô após sete anos de iniciação.

Yabassé: Encarregada do preparo das comidas dos Orixás. Não "recebe" santo.

Agibonan, Iyakekerê ou Iyá Egbé: Mãe criadeira, mãe pequena ou ainda, mãe da comunidade. Cuida dos Iaôs durante a iniciação. Segunda pessoa na ordem de uma Casa de Candomblé.

Iyá Efun ou Babá Efun: Encarregado (a) das pinturas corporais durante o período de iniviação.

Babalaô: "Pai do Segredo". Sacerdote responsável pelos processos divinatórios.

Babalorixá: Sacerdote. Chefe da Casa de Candomblé. Grau mais elevado do corpo sacerdotal que distribui todas as funções do culto.

Iyalorixá: Sacerdotiza do Candomblé. Em yorubá significa "Mãe do Orixá" - aquela que inicia as pessoas no ritual.

As cerimônias secretas da Iniciação no Candomblé


A iniciação é um elemento que determina a união entre o grupo que forma a hierarquia de um terreiro, pois todos passarão pelo mesmo ritual e conhecerão todas as dificuldades a serem enfrentadas. A primeira etapa da iniciação é o "bolar" para o santo. Esse é um forte sinal de que há necessidade de iniciação. Acontece geralmente quando a pessoa participa de um xirê (toque) e o Orixá acaba se manifestando em estado bruto. É como desmaiar, mas o Orixá está alí - manifestado. A pessoa é então levada para o Roncó para ser trazida de volta do transe. Se decidir se iniciar, caberá ao sacerdote consultar o jogo de búzios para determinar o Orixá - dono da cabeça - e todo o material a ser utilizado na feitura.

CERIMÔNIA DO BORÍ:
É dar comida a Cabeça, alimentar o Orí. O Orixá agora tem o direito de "tomar" aquela cabeça porque foi permitido pelo novo adepto. Neste momento dá-se início a uma união definitiva, pelo resto da vida. Nessa obrigação são consagrados objetos, animais e símbolos de acordo com o Orixá de cabeça de cada filho (a). A reclusão do Borí dura de três a sete dias em média, dependendo da cada casa e de cada culto.

O ORÔ:
É o assentamento propriamente dito do Orixá. É o dia em que o Abian raspará a cabeça e fará os cortes rituais em seu corpo que propiciarão a manifestação do Orixá. Em seu corpo serão feitas as pinturas rituais com os pós Waji, Ossum e Efun. Ele receberá também o fio de contas (Kelê) no pescoço que é a marca final da cabeça, que recebeu o sacrifício. Essa marca tornou-se sagrada pelo resto da vida.

 

Nascemos para morrer- Abikús


É fato que um filho representa um grande tesouro. Para o Africano não é diferente. Na África, mulheres estéreis são consideradas como verdadeiras inutilidades. Isso pode ser comprovado no Itan do Odú Ogbe-Hunle:

Omo l'okun
Omo ni de
Omo ni jingindinringin
A mu se yi, mú s'orun Ara eni.

Tradução:

Um filho é como contas de coral vermelho,
Um filho é como o cobre,
Um filho é como alegria inextinguível.
Uma honra apresentável, que nos representará depois da morte.


Um dos maiores mistérios existentes no culto aos Orixás, é o que envolve os Abíkú, espíritos infantis que, conforme determina o próprio nome, nascem para morrer. Talvez porque envolva espíritos infantis ou por falta de informações exatas sobre o assunto e por conta disso, muitas crenças são criadas e quase sempre absurdas. O fato é que os Abikus:


NÃO são uma maldição;

NÃO são espíritos maléficos;

NÃO matam a própria mãe;

NÃO tem poderes sobrenaturais;

NÃO são bruxos;

NÃO incorporam;

NÃO podem receber cargos, muito embora sejam bastante respeitados e acredita-se que nenhum malefício possa atingi-los, o que também não é verdade.

Os Abikús são pessoas normais e como tal devem ser tratados porque é isso que são: NORMAIS com características diferentes dos demais tidos como “povo do santo”. Na iniciação sua cabeça é protegida por uma meia cabaça, pois segundo se acredita, sobre o orí de um Abíkú, não pode correr sangue.

O conceito de Abíkú deve ser reavaliado por nossos sacerdotes, já que este fenômeno ocorre em todas as partes do mundo e é necessário que nossos líderes religiosos não só o conheçam e compreendam profundamente, como possuam também, condições de solucioná-lo, sem mistificações, através de uma prática ritualística simples, mas muito efetiva.
É necessário, acima de tudo, que, uma vez contata a presença de um espírito Abíkú, os pais e as mães sejam informados de forma correta, sem medo ou repulsa e sem nenhuma conotação de perversão ou depravação espiritual, o que, sem dúvida, poderá ser obtido com muita fé e devoção aos Orixás.

Os Abíkú são na verdade, espíritos que provocam a morte das crianças em que estejam encarnados, ou seja, que provocam a própria morte. A palavra de origem yoruba pode ser literalmente traduzida como: "Nós nascemos para morrer".

A ação do Abíkú encarnando-se sucessivas vezes em crianças geradas por uma mesma mulher e provocando sua morte durante a fase de gestação, ou logo após o nascimento, mas sempre antes dos nove anos de idade, é tida e havida como uma verdadeira maldição.
Sabemos que o espírito, já em estágio de adiantada evolução, buscando acelerar ainda mais o processo, provoca esse tipo de fenômeno que, se do ponto de vista espiritual pode ser considerado benéfico, do ponto de vista material é visto como uma desgraça que se abate sobre uma família, determinando dor e luto constantes.

Os espíritos Abíkú formam um grupo denominado Egbe Orun Abíkú, que habita no mundo paralelo que nos rodeia, o Orun, morada dos deuses e dos antepassados.

No Orun, termo que pode ser corretamente traduzido para céu, este grupo de espíritos dividem-se em categorias, de acordo com o sexo, sendo que os pertencentes ao sexo masculino são chefiados por Oloiko (Chefe do grupo) e os de sexo feminino, por Iyajanjasa (A Mãe que bate e corre).

Na sua vinda do Orun para o aiye (terra), os espíritos, também conhecidos como Emere, estabelecem um pacto com Onibode Orun, o guardião dos portais do Orun, condicionando sua permanência, no nosso mundo, a determinadas exigências.

Através do pacto formalizado, alguns destes espíritos determinam-se simplesmente, não nascer, enquanto outros, determinados a voltar logo após seu nascimento, morrem subitamente, quer seja por acidente, quer seja por doença, assim que rompa seu primeiro dente.

Todos os Abíkú são considerados espíritos infantis e possuem companheiros ou amiguinhos mais chegados, com os quais costumam brincar no Orun. Logo que uma destas crianças nasce, seu par começa a interferir na sua vida terrena, aparecendo-lhe em sonhos ou atormentando-o de diversas formas, para que não se esqueça do compromisso assumido, e que retorne, o mais rapidamente possível, ao seu convívio.

Segundo a lenda, os vieram à terra, pela primeira vez, na localidade denominada Awaiye, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e seu chefe no Orun. O grupo era formado por 280 espíritos que, parando no portal do céu, fizeram diversos pactos, condicionando seu retorno a diferentes situações, que variavam de acordo com a escolha de cada um. Desta forma, alguns estabeleceram a data de sua morte para depois que vissem, pela primeira vez, o rosto de suas mães; outros, para quando completassem sete dias de nascidos; outros ainda, para quando começassem a andar; alguns, para quando ganhassem um irmão mais novo; outros, para quando se casassem ou construíssem uma casa. Aqueles que nascessem comprometiam-se a não aceitar o amor de seus pais e, todos os presentes e agrados recebidos, seriam inúteis para retê-los na Terra, ao passo que alguns, se comprometeram, simplesmente, a provocarem seus próprios abortos, não chegando sequer a nascer. Estabeleceram ainda que, se seus pais adivinhassem seus rituais, roupas e oferendas, e, se em tempo hábil os oferecessem, concordariam em permanecer neste mundo.

Determinaram ainda entre si um ritual no qual, roupas, chapéus e turbantes tingidos de osun, com valor simbólico de 1.400 cawrís, deveriam ser pendurados nas árvores de um bosque especialmente consagrado para seu culto. Folhas sagradas deveriam ser friccionadas em seus corpinhos já tingidos de osun, shaworos seriam colocados em seus tornozelos, pequenas incisões seriam feitas em seus corpos, e, através delas, pós mágicos de diversas folhas, seriam inseridos como proteção. Com os mesmos pós, seriam confeccionados amuletos de couro, denominados ondê, que deveriam ser presos às suas cinturas. Alguns deles deveriam levar nos tornozelos, argolas e correntes de ferro, para evitar que fugissem para o Orun e, suas oferendas, conforme determinariam os Itan Ifá, seriam compostas de cabras, pombos, galos, doces, diversos tipos de cereais, bebidas e guizos, que deveriam ser entregues no bosque sagrado, soltas nas águas de um rio, ou enterradas em suas margens. Somente assim, concordariam em permanecer sobre a Terra.

Apesar disto, se Iyajanjasa ou Oloiko insistissem em levar alguns deles de volta para o Orun, seus corpos sem vida deveriam ser marcados com escarificações, queimaduras ou mutilações, para que seus colegas do Orun, não os reconhecendo, se negassem a aceitá-los no egbe. As mesmas marcas, reaparecendo nos corpos que tomassem para renascer, serviriam para que pudessem ser identificados e, imediatamente, submetidos aos procedimentos mágicos que fariam com que prolongassem suas vidas.

Segundo as tradições, o Ipori ao atingir elevado estágio de evolução, costuma reunir-se em grupos, aguardando em copas de determinadas árvores consideradas sagradas, situadas em trilhas existentes em alguns bosques. A passagem de uma mulher de "corpo aberto", ou seja, em fase de menstruação, é por ele esperada para que, através dessa "abertura", possa estabelecer-se em seu interior, aguardando ali, que ocorra a fecundação, quando então, aloja-se no embrião, dando início a uma nova encarnação que poderá ser interrompida antes do total desenvolvimento do feto, ou num período de nove anos após o nascimento, conforme seja o seu plano de mais rapidamente processar sua evolução.

A ocorrência de abortos sucessivos, ou a morte dos filhos ainda pequenos, configuram-se como sintomas da presença de um Abíkú e, contatada essa presença, a mulher afetada deve submeter-se a um complexo tratamento espiritual, tendo que reunir-se a um grupo denominado Egbe Obá, onde é praticado um culto específico a Abíkú.

Como parte integrante do Egbe Obá, a mulher passa por uma série de procedimentos ritualísticos que visam garantir o nascimento de seu próximo filho, não por intermédio da expulsão do Abíkú alojado em seu corpo, mas através de sua concordância do mesmo em nascer e continuar vivendo no corpo em gestação, por um período correspondente à média normal de vida humana.

Um babalawo, especialista no trato com, indica o ebó que irá garantir o nascimento com vida do próximo filho da mulher em questão, mantendo-o vivo, retendo-o sobre a Terra e rompendo, definitivamente, sua ligação com o Orun.

Iniciado o tratamento espiritual, a mulher tem o corpo, principalmente o abdome, esfregado com folhas sagradas, toma banhos e chás das mesmas folhas e passa a cuidar de uma entidade feminina chamada Egbe Eleriko, que atormenta as crianças durante o sono, produzindo marcas e ferimentos superficiais em seus corpos.

Um assentamento de Egbe Eleriko é feito em sua casa, onde, anualmente, serão oferecidos sacrifícios de animais, com toques, cânticos e danças ritualística.
Esta entidade tem que ser cultuada permanentemente e, a cada cinco dias, cabaças com oferendas lhe é oferecida num rio.

Dentro destas cabaças são colocados ovos, obís, favas bejerekun, akasá, bananas, doces, inhame, acarajés, cana-de-açúcar e penas ekodidé, tudo em número de seis. A cabaça é fechada e, depois de colocada dentro de um saco, é entregue nas águas de um rio, acompanhada das seguintes rezas:


1 - Egbe, afável mãe, apoio suficiente para os que a cultuam.
Aquela que usa roupas de veludo e que, elegante, come cana-de-açúcar nos caminhos de Oyó.
Aquela que gasta muito dinheiro comprando azeite de dendê.
A que está sempre fresca e que possui muito óleo, que utiliza para realizar milagres.
Aquela que tem dinheiro para luxo, a linda.
A que sucumbe ao seu marido, como a uma pesada clava de ferro.
Aquela que possui dinheiro para comprar, mesmo as coisas mais caras.


2 - Por favor, permita-me usar um ojá.
Por favor, permita-me possuir um ojá.
Um ojá é o que usamos para prender uma criança às nossas costas.
Eu posso, a cada cinco dias, cultuar Egbe.
Mãe Egbe, que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias.

Apesar de atormentar as crianças, Egbe Eleriku tem o poder de dar filhos e fortuna às mulheres que a cultuam e nem todas as crianças são por ela perseguidas.
Um oriki de Egbe Eleriko, recolhido em Ibadan, demonstra a ligação acima referida, e serve como uma súplica feita pelas mulheres que, sob sua proteção, desejam filhos sadios e livres da praga.

Mãe proteja-me e eu irei ao rio.
Não permita a abíku entrar em minha casa.
Mãe proteja-me, eu irei ao rio.
Não permita que uma criança maldita venha à minha casa.
Mãe proteja-me, eu irei ao rio.
Não permita que uma criança estúpida siga-me até minha casa.
Olugbon morreu e deixou filhos no mundo.
Aresá morreu e deixou descendência.
Olukoyi morreu e deixou descendência.
Não permita que eu morra sem ter tido filhos.
Eu não posso morrer de mãos vazias, sem descendentes
.

Um procedimento muito usado para constatar a presença do Abíkú, no caso de falecimento de uma criança de menos de nove anos, faz parte de um ritual durante o qual, o cadáver do pequenino, depois de lavado com infusões de ervas sagradas, é marcado com cortes superficiais em diversas partes do corpo, feitos com afiadas lâminas de aço. Através destas escarificações são introduzidos alguns tipos de pós obtidos da moagem de elementos naturais, considerados mágicos. Cortes mais profundos são feitos no alto da cabeça e o lóbo de uma das orelhas é extirpado. Um guizo de ferro fornecido pelo Egbe Obá é atado ao tornozelo do cadáver que, só então, receberá sepultura.

A próxima criança gerada pela mãe do falecido, se apresentar uma das marcas feitas no cadáver de seu irmão, se possuir lóbo duplo ou bipartido numa das orelhas, ou ainda, se possuir um sexto dedo num dos pés ou mãos, estará caracterizando a presença do Abíkú, devendo ser imediatamente submetida aos rituais que lhe preservarão a vida e que, da mesma forma que os procedimentos relativos ao cadáver de seu falecido irmão, só podem ser ministrados por um sacerdote do culto de Ifá, Babalawo consagrado e especializado neste tipo de ritual.

Assegurado o nascimento da criança, e tendo esta efetivamente nascida com vida, deverá então ser submetida aos rituais propiciatórios, para que o espírito permaneça naquele corpo, com a garantia de que será aquela a sua última encarnação.

Um ebó será preparado, com um pedaço de tronco de bananeira vestido com roupas e gorros tingidos de osun e bordados de búzios e guizos. Pendura-se tudo nos galhos de uma árvore e, no chão, arria-se, ao redor do tronco, pratos ou alguidares de barro contendo inhame, acarajé, ekurú, akasá, canjica, doces, frutas, bebidas, folhas ritualísticas, tudo bem coberto com mel de abelhas. Uma cabra, um pombo e um galo são sacrificados e arriados no local, onde permanecerão por algum tempo. Depois, embrulham-se os corpos dos animais sacrificados num pano branco, cobre-se com bastante pó de efun, amarra-se e enterra-se nas margens de um rio, ou despacha-se nas águas, de acordo com a orientação obtida através do oráculo.

Na confecção do ebó, não são utilizadas rezas ou cânticos, sendo exigida, isto sim, a presença dos pais do Abíkú, que deverão saber o objetivo do ebó. As mesmas folhas oferecidas no sacrifício serão utilizadas em banhos e na confecção de pós mágicos que serão esfregados nas incisões do Abíkú e na preparação do amuleto ondê, que deverá acompanhá-lo pelo resto da vida. As folhas têm que ser consagradas antes de sua utilização e, para isso, possuem ofós específicos, que ressaltam suas qualidades e funções. Estas são as plantas sagradas dos, utilizadas em seus rituais:


- Abirikolo - Corresponde, no Brasil, à cascaveleira, também conhecida como amendoim-do-mato, ou ainda, xekeré.
- Agidimagbayin - walteria americana - Folha de veludo, erva de soldado.
- Idi - Amendoeira.
- Ija - Osun - Bixa orellana, Lin.
- Lara pupa - Mamona vermelha.
- Olobutoje - Pinhão-da-Bahia.
- Opa emere - Dobradinha-do-campo.


Estes são os ofós de consagração de cada folha:


Abirikolo: Ewe abirikolo, insinu Orun e pehindá. (Folha abirikolo, coveiro do céu, retorne).


Agidimagbayin: Ewe agidimagbayin, Olorun maa ti kun, a a ku mo. (Folha agidimagbayin, Olorun fecha as portas do Orun para que não morramos mais).


Idi: Ewe idi lori ki ona Orun temi odi. (Folha idi, diga que o caminho do Orun está fechado para mim).


Lara pupá: Ewe lara pupá ni osun a won abíkú. (A folha lara pupá é o cânhamo).


Olobotuje: Olobotuje ma je ki mi bi abíkú omó. (Folha de olobotuje, não me deixe parir filhos).


Opa emere: Opa emere kipe ti fi ku, yiomaa ewu ni, nwón ba ri opa emere. (Galho de emere não permita que eles morram - a vara de emere os apazigua).

Formalizado o pacto, a criança viverá normalmente, como qualquer ser humano, só devendo morrer em idade bastante avançada. Acredita-se que os seres humanos dotados de espírito Abíkú, talvez pelo alto grau de evolução de seu Ipori, são dotados de muita inteligência e, no decorrer de suas vidas, transforma-se em verdadeiros líderes, dedicados ao bem estar de sua comunidade e principalmente dos seus familiares.

Às crianças Abíkú que conseguem sobreviver, são dados nomes específicos que fazem referência à sua especial condição de nascimento. Isto deverá ocorrer sempre, no sétimo dia depois de seu nascimento - se for menina, ou no nono dia - se for menino. No caso de gêmeos, os nomes serão dados no oitavo dia após o nascimento. Esta festividade que comporta um ritual é denominada Ikomojade, e tem por finalidade principal, dar aos Abíkús, nomes que desestimulem sua volta ao Orun, alguns dos quais, com seus respectivos significados em português, relacionamos em seguida:

Malómo - não vá embora novamente
Kosokó - não existe mais terra- a terra acabou
Banjokô - sente-se e fique comigo
Durosimi - espere para me enterrar quando eu morrer

Jekiniyin - permita que eu tenha um pouco de respeito
Akisotan - não existe mais mortalha para o sepultamento
Apara - aquele que vai e vem
Okú - o morto
Igbe Koyi - nem a floresta quer você- a selva rejeita essa criança
Enú- Kún-Onipê - o consolador está cansado
Tijú-Icú - envergonhe-se de morrer
Buro-Orí-Iké - fica, espere e veja como serás mimado
Aiye Dun - a vida é doce
Aiye Lagbé - ficamos no mundo
Age Igba - que a riqueza não se perca
Ajuki - o morto viverá
Apaara - frequenta minha casa
Ayomu mo - vai pra o céu e volta
Bajoko – senta-se ao meu lado
Duro – me atende e fica
Duro Joyé – continua a gozar a vida
Sinmi – é difícil ficar enterrado
Shome – difícil fazer as crianças permanecer
Toyé – se ficares, receberás homenagens
Wojú – difícil olhar para os meus olhos
Ebe Loko – implora pra ficar
Ení Lolobo – alguém partiu e voltou
Inu Kuno naipe – estou cansado (a) de receber pêsames
Ikú Faryin – a morte perdoa
Iletan – está acabado
Kike – indulgente
Kaje Yu – não é aceito pra morrer
Kokun – não morras mais
Koni Bi Re – não vai lá
Kosile – não vai enterrar mais
Ifari – chamemo-lhes
Kosoko – não vai cruzar o túmulo
Kumipayi – Kuti – a morte não mata mais este aqui
Maku – não morre mais
Matnami – não larga mais a vida
Obi Mesan – não vingarás
Ikú Okura – a morte é apenas um nome
Oku se Hiyn – o morto que retorna
Amatunde – o menino que retorna
Orun Kun – o céu está cheio
Ratini – suporta-me
Tomi Mowo – quem sabe como cuidar
Tijuiko – vergonha da morte
Jekin-niyin – me dá seu preço
Akuji – o que está morto, desperta
Omotundé – a criança voltou.


Como se vê, os nomes abíkú renegam a morte e a possibilidade de retorno ao Egbe Orun. Ressaltam a vida e o quanto é bom desfrutar das coisas existentes sobre a Terra, principalmente o amor dos pais e irmãos. Estas crianças devem ser chamadas, sempre, por estes nomes, o que ajuda o rompimento definitivo do seu vínculo com o grupo Emeré.
Periodicamente oferecem-se comidas ritualísticas às crianças Abíkú, o que acontece, invariavelmente, por ocasião de seus aniversários natalícios, produzidas principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante estes festivais, os espíritos Abíkú se apresentam e, ao participarem do evento, são apaziguados.

A noção do Abíkú existe em quase toda a África negra, variando apenas na forma de tratamento deste fenômeno. Vários povos mantêm a mesma crença, embora dêem a eles, nomes diferentes. Os igbos os chamam de ogbanje, eze-nwany, agwu ou ainda, iyi-uwa-ogbanje. Entre os nupe, são conhecidos como kuchi ou gayakpeama. Os fanti os conhecem pelo nome de kossamah, os akan pelo nome de awomawu, e os haussa chamam-nos de danwabi ou kyauta.
Também entre os povos bantu, originários do Sul da África, encontramos os uafú zá kuíza, cujos funUm Itan de Ifá revela, por intermédio do Odu Irosun Meji, um sacrifício específico para garantir o nascimento de uma criança:


Nibi ti a gbe Agbalagba Osá
L'eri ate,
Osá w'pe k'a ru ebo.
Opé kan sekìsekì
Babalawo Egà L'o da f'egà
Egà l'o da f'Ega. Egà nf'omi je sogbéré omo.
Ha ! nwon ni ki Egà ó ru ebo:
Nwon ni ki Ope ó ru ebo.
Nwon ni nwon ó se awo.
Nwon ni ki awo nã
Ki nwon o le san òre rì fun.
Ope ni howu !
Eni o ba s'ore fun,
Eti she ti o fi ni se ore f'on ?
Ope o ru.
Egà, on ti se t'on le'i bí mó ?
Won ni k'o ru ebo.
kil'on ru ?
Nwon ni e r'egba merinlaã;
K'o ru aso ara e,
Egà ru'bo;
Egà bere s'omo bi.
Nigbati egà o wa ni aso l'ara ma,
Awon omo ni, kini a gba aso l'owo re ?
Ol'ope ni.
l'awon omo ba bere si imo Ope ya;
Ni nwon ba nlo f'aso Ope ya,
Ni nwon fi nko'le.
Nibi ti egà o je ki Ope o gbadun ma,
Ti nwon nya ewe re,
Ti nwon nlo fi ko'le l'oni nu.
Egà ni nwon njo, ni ny'o;
Ni nyin awon awo,
L'awon awo nyin, Sà
Pe be ni awon awo t'on senu re wi.
Ope kan sekiseki
L'o da fegà.
Egà nf'omije se beré omo.
Ope sekiseki. egbi mo tan
o ni ri mò bo'ra.
Osá pe ire aje.
Nibi ti àá gbe gbodo lo
Aso t'a ba gba n'be nu.
A gbodo lõ;
Aso nã, a fi t'ore ni.
B'Osa ti wi nu.

TRADUÇÃO:

Quando as divindades mais velhas surgiram na bandeja,
Os Orixás disseram que devemos oferecer sacrifícios.
Uma Palmeira Repleta de Muitas Folhas
O adivinho de Ave Tecelã da Aldeia foi quem consultou para o pássaro.
Ave Tecelã da Aldeia implorava por filhos.
Ha! Eles disseram que a ave deveria oferecer um sacrifício.
Eles disseram que as marcas deveriam ser cuidadosamente observadas.
A Palmeira disse: "O que? A qualquer um eu trato gentilmente,
Por que não são gentis comigo?"
A Palmeira não fez o sacrifício.
Ave Tecelã da Aldeia, por que não tratar gentilmente o filho do urso ?
Eles disseram que ela deveria oferecer um sacrifício.
O que ela deveria oferecer?
Deveria oferecer vinte e oito mil búzios.
Deveria oferecer a roupa que estivesse vestindo.
Ave Tecelã da Aldeia ofereceu o sacrifício.
Ave Tecelã da Aldeia começou a gerar filhos.
Quando não tinha mais roupa no corpo,
Seus filhos perguntaram: "Quem tomou a tua roupa?"
Ela disse - "Foi a Palmeira".
Seus filhos começaram a rasgar as folhas da Palmeira.
Eles rasgaram a roupagem de folhas da Palmeira.
Eles construíram seus ninhos com elas.
É por isso que os pássaros
Nunca deixam as palmeiras em paz,
Estão sempre se movimentando entre suas folhas.
Ave Tecelã da Aldeia dançou, ela ficou feliz;
Ela louvou as Divindades,
E as Divindades louvaram Oxalá,
Porque seu adivinho foi capaz de falar a verdade.
Uma Palmeira Repleta de Muitas Folhas
Foi aquele que consultou para Ave Tecelã da Aldeia.
Ave Tecelã da Aldeia suplicou por filhos
E não encontrou folhas para vestir o seu corpo.
Orixá diz - "Alegria do dinheiro,
Isso é coisa que não desfrutamos,
A roupa que recebemos como sacrifício
Nós não devemos usar.
“Nós devemos distribuir a roupa como um dom”.
Foi isto que Orixá disse!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ketu

Candomblé Ketu (pronuncia-se queto) é a maior e a mais popular "nação" do Candomblé, uma das Religiões afro-brasileiras.

No início do século XIX, as etnias africanas eram separadas por confrarias da Igreja Católica na região de Salvador, Bahia. Dentre os escravos pertencentes ao grupo dos Nagôs estavam os Yoruba (Iorubá). Suas crenças e rituais são parecidos com os de outras nações do Candomblé em termos gerais, mas diferentes em quase todos os detalhes.

Teve inicio em Salvador, Bahia, de acordo com as lendas contadas pelos mais velhos, algumas princesas vindas de Oyó e Ketu na condição de escravas, fundaram um terreiro num engenho de cana. Posteriormente, passaram a reunir-se num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Jeje-Nagô pretextando a construção e manutenção da primitiva Capela da Confraria de Nossa Senhora da Barroquinha, atual Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha que, segundo historiadores, efetivamente conta com cerca de três séculos de existência.[1]

No Brasil Colônia e depois, já com o país independente mas ainda escravocrata, proliferaram irmandades. "Para cada categoria ocupacional, raça, nação - sim, porque os escravos africanos e seus descendentes procediam de diferentes locais com diferentes culturas - havia uma. Dos ricos, dos pobres, dos músicos, dos pretos, dos brancos, etc. Quase nenhuma de mulheres, e elas, nas irmandades dos homens, entraram sempre como dependentes para assegurarem benefícios corporativos advindos com a morte do esposo. Para que uma irmandade funcionasse, diz o historiador João José Reis, precisava encontrar uma igreja que a acolhesse e ter aprovados os seus estatutos por uma autoridade eclesiástica".

Muitas conseguiram construir a sua própria Igreja como a Igreja do Rosário da Barroquinha, com a qual a Irmandade da Boa Morte manteve estreito contato. O que ficou conhecido como devoção do povo de candomblé. O historiador cachoeirano Luiz Cláudio Dias Nascimento afirma que os atos litúrgicos originais da Irmandade de cor da Boa Morte eram realizados na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, templo tradicionalmente freqüentado pelas elites locais. Posteriormente as irmãs transferiram-se para a Igreja de Santa Bárbara, da Santa Casa da Misericórdia, onde existem imagens de Nossa Senhora da Glória e da Nossa Senhora da Boa Morte. Desta, mudaram-se para a bela Igreja do Amparo desgraçadamente demolida em 1946 e onde hoje encontram-se moradias de classe média de gosto duvidoso. Daí saíram para a Igreja Matriz, sede da freguesia, indo depois para a Igreja da Ajuda.

O fato é que não se sabe ao certo precisar a data exata da origem da Irmandade da Boa Morte. Odorico Tavares arrisca uma opinião: a devoção teria começado mesmo em 1820, na Igreja da Barroquinha, tendo sido os Jejes, deslocando-se até Cachoeira, os responsáveis pela sua organização. Outros ressaltam a mesma época, divergindo quanto à nação das pioneiras, que seriam alforriadas Ketu. Parece que o “corpus” da irmandade continha variada procedência étnica já que fala-se em mais de uma centena de adeptas nos seus primeiros anos de vida.

Essas confrarias eram os locais onde se reuniam as sacerdotisas africanas já libertas (alforriadas) de várias nações, que foram se separando conforme foram abrindo os terreiros. Na comunidade existente atrás da capela da confraria foi construído o Candomblé da Barroquinha pelas sacerdotisas de Ketu que depois se transferiram para o Engenho Velho, ao passo que algumas sacerdotisas de Jeje deslocaram-se para o Recôncavo Baiano para Cachoeira e São Félix para onde transferiram a Irmandade da Boa Morte e fundaram vários terreiros de candomblé jeje sendo o primeiro Kwé Cejá Hundé ou Roça do Ventura.

O Candomblé Ketu ficou concentrado em Salvador, depois da transferência do Candomblé da Barroquinha para o Engenho Velho passou a se chamar Ilê Axé Iyá Nassô mais conhecido como Casa Branca do Engenho Velho sendo a primeira casa da nação Ketu no Brasil de onde saíram as Iyalorixás que fundaram o Ilê Axé Opô Afonjá e o Terreiro do Gantois.

Sincretismo

No tempo das senzalas os negros para poderem cultuar seus Orixás, Inkices e Voduns usaram como camuflagem um altar com imagens de santos católicos e por baixo os assentamentos escondidos, segundo alguns pesquisadores este sincretismo já havia começado na África, induzida pelos próprios missionários para facilitar a conversão.
Depois da libertação dos escravos começaram a surgir as primeiras casas de religião , e é fato que o candomblé de séculos tenha incorporado muitos elementos do
Cristianismo. Crucifixos e imagens eram exibidos nos templos, Orixás eram freqüentemente identificados com Santos Católicos, algumas casas de candomblé também incorporam entidades caboclos, que eram consideradas pagans como os Orixás.
Mesmo usando imagens e crucifixos inspiravam perseguições por autoridades e pela Igreja, que viam o candomblé como
paganismo e bruxaria, muitos mesmo não sabendo nem o que era isso.
Nos últimos anos, tem aumentado um movimento "fundamentalista" em algumas casas de candomblé que rejeitam o sincretismo aos elementos Cristãos e procuram recriar um candomblé "mais puro" baseado exclusivamente nos elementos Africanos, o que deve ser para nós da religião africanista um orgulho podermos usarmos o que de fato é nosso sem usar subterfúgios , que hoje em dia não fazem mais nenhum sentido, a não ser nos remeter as lembranças que para o nosso povo na época não deveria ser nada agradável!!!

sábado, 7 de dezembro de 2013

Mito da criação ;))

Na mitologia yorubá o deus supremo é Olorun, chamado também de Olodumare. Não aceita oferendas, pois tudo o que existe e pode ser ofertado já lhe pertence, na qualidade de criador de tudo o que existe, em todos os nove espaços do Orun.

Há algumas variantes do mito da criação yorubá, mas de uma forma geral, há três principais raízes mitologicas, que ainda diferenciam-se em detalhes, mas que mantém uma linha central.

Em algumas, Obàtálá é o criador, não só do mundo, como também da humanidade, criando simultaneamente, no òrun (mundo espiritual) e no ayé (mundo material).

Em outras, Òduduwà cria o mundo após Obàtálá falhar na sua missão por haver embriagado com o emu (vinho de palma), restando a ele o poder da criação da humanidade, no òrun e no ayé.

Em outra variante, esta mais recente, é Òrúnmìlà (a divindade do oráculo Ifá), o criador da Terra, enquanto Obàtálá é o responsável pela criação da humanidade, em ambos os níveis.

Principais orixás

Na mitologia yoruba, Olodumare também chamado de Olorun é o Deus supremo do povo Yoruba, que criou as divindades, chamadas de orixás no Brasil e irunmole na Nigéria, para representar todos os seus domínios aqui na terra, mas não são considerados deuses, são considerados ancestrais divinizados após à morte.

Orixás

  • Exu, orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.

  • Ogum, orixá do ferro, guerra, e tecnologia.

  • Oxóssi, orixá da caça e da fartura.

  • Logunedé, orixá jovem da caça e da pesca

  • Xangô, orixá da pedreira, protetor da justiça.

  • Ayrà, usa cores brancas, tem profundas ligações com Oxalá.

  • Xapanã (Obaluaiyê Omolu), Orixá das doenças epidérmicas e pragas.

  • Oxumarê, orixá da "chuva" e do arco-íris.

  • Ossaim, orixá das ervas medicinais e seus segredos curativos.

  • Oyá ou Iansã, orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestade, trovão e do Rio Niger

  • Oxum, orixá feminino dos rios, cachoeira, do ouro, amor e fertilidade.

  • Iemanjá ou Yemanjá, orixá feminino dos mares , mãe de todos os Orixás de origem yorubana.

  • Nanã, orixá feminino das águas das chuvas, dos pântanos, da lama e da morte, mãe de Obaluaiyê, Iroko, Oxumarê e Ewá, orixás de origem daomeana.

  • Yewá, orixá feminino do rio Yewa, senhora da vidência, a virgem caçadora.

  • Obá, orixá feminino do rio Oba, uma das esposas de Xangô juntamente com Oxum e Iansã.

  • Axabó, orixá feminino da família de Xangô

  • Ibeji, orixás gêmeos, protetor das crianças.

  • Iroko, orixá da árvore sagrada (conhecida como gameleira branca no Brasil).

  • Egungun, ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.

  • Iyami-Ajé, é a sacralização da figura materna.

  • Onilé, orixá relacionado ao culto da terra.

  • OrixaNlá (Oxalá) ou Obatalá, o mais respeitado Orixá, Pai de todos os Orixás e dos seres humanos.

  • Ifá ou Orunmila-Ifa, orixá da Adivinhação e do destino.

  • Odudua, orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.

  • Oranian, orixá filho mais novo de Odudua.

  • Baiani, orixá também chamado Dadá Ajaká.

  • Oloku, orixá divindade do mar.

  • Olossá, orixá dos lagos e lagoas

  • Oxalufon, orixá velho e sábio.

  • Oxaguian, orixá jovem e guerreiro.

  • Orixá Oko, orixá da agricultura.


ORTOGRAFIA YORUBÁ

Ortografia yorubá

A

B

D

E

F

GGb

H

I

J

K

L

M

N

O

P

R

S

T

U

W

Y

a

b

d

e

f

ggb

h

i

j

k

l

m

n

o

p

r

s

t

u

w

y

As letras c, q, v, x, z não são usadas.

Letras que se utiliza o ponto embaixo: Ọ, Ẹ e S̩

  • S̩ com ponto embaixo tem o som de X ou CH

  • Ọ e Ẹ com ponto embaixo tem som aberto

As vogais são sete: A, E, Ẹ, I, O, Ọ, U, quando seguidas de N terão som nasal.

A acentuação é utilizada da seguinte forma: o A é pronunciado com som aberto (agudo); o E é pronunciado com som aberto (agudo); o E é pronunciado com som fechado (grave); o O é pronunciado com som aberto (agudo); o O é pronunciado com som fechado (grave); o U é pronunciado com som aberto (agudo); o acento agudo é pronunciado em tom alto; o acento grave é pronunciado em tom baixo; a ausência de acentuação é pronunciada em tom médio; o til significa a repetição da vogal (ã = aa, õ = oo); o sublinhado sob uma vogal indica que seu som é aberto; o sublinhado sob a consoante S

 

Fonemas

Vogais

 

 

 

 

 

 

 

Consoantes

A

E

I

O

U

 

B

bi

 

D

di

 

F

fi

 

G

guê

gué

gui

 

GB

güá

güê

güé

güi

güô

güó

güú

 

H

rrá

rrê

rré

rri

rrô

rró

rrú

 

J

djá

djê

djé

dji

djô

djó

djú

 

K

quê

qué

qui

 

L

li

 

M

mi

 

N

ni

 

P

puá

puê

pué

pui

puô

puó

puú

 

R

ri

 

S

ssá

ssê

ssé

ssi

ssô

ssó

ssú

 

xi

 

T

ti

 

W

 

Y

Uma mesma palavra só depende do tom para ser distinguida:

Ọkò = carro, espada

Ọko = marido

Ọkó = enxada

Números

 
 
 

 

1 - Ení, Ókan

6 - Èfà

11 - Ókànlà

16 - Érìndinlógún

 

2 - Èjì

7 - Èje

12 - Éjìlà

17 - Étàdinlógún

 

3 - Èta

8 - Èjo

13 - Étàlà

18 - Éjìdinlógún

 

4 - Èrin

9 - Èsàn

14 - Érìnlà

19 - Ókàndinlógún

 

5 - Àrùn

10 - Èwà á

15 - Èdogún

20 - Ogún

" DIALETO MAS USADO " NO BRASIL

No Brasil registra-se a utilização de terminologia do idioma ioruba, em um falar popularmente conhecido como pajubá ou bajubá, praticado sobretudo entre certos segmentos da população não heterossexual, sobretudo entre os gays das classes mais humildes.

O vocabulário nagô passa a ser utilizado de forma universal como um código de comunicação de resistência em situações de conflito social.

Alguns dos termos mais utilizados como referência em publicações e websites tratando desse falar minoritário peculiar:

Adé = gay;

Alibã = policial;

Amapô = mulher;

Aqüé = dinheiro;

Aqüendar = tomar a si;

Bereré = lixo, resto (pode referir-se a uma pessoa, ou a um objeto);

Carupé = peruca;

Cossibaré = burro;

Dadá = orixá coroado;

Laruê = fofoca;

Lorogum = briga;

Ocó = homem;

Ocâni = pênis;

Omivará = esperma;

Otchin = bebida alcoólica;

Pajobá = escandalizada, boquiaberta;

Picumã = cabelo;

Xepó = cafona.