Um filho é como contas de coral vermelho,
Um filho é como o cobre,
Um filho é como alegria inextinguível.
Uma honra apresentável, que nos representará depois da morte.
Um
dos maiores mistérios existentes no culto aos Orixás, é o que envolve
os Abíkú, espíritos infantis que, conforme determina o próprio nome,
nascem para morrer. Talvez porque envolva espíritos infantis ou por
falta de informações exatas sobre o assunto e por conta disso, muitas
crenças são criadas e quase sempre absurdas. O fato é que os Abikus:
NÃO são uma maldição;
NÃO são espíritos maléficos;
NÃO matam a própria mãe;
NÃO tem poderes sobrenaturais;
NÃO são bruxos;
NÃO incorporam;
NÃO
podem receber cargos, muito embora sejam bastante respeitados e
acredita-se que nenhum malefício possa atingi-los, o que também não é
verdade.
Os Abikús são pessoas normais e
como tal devem ser tratados porque é isso que são: NORMAIS com
características diferentes dos demais tidos como “povo do santo”. Na
iniciação sua cabeça é protegida por uma meia cabaça, pois segundo se
acredita, sobre o orí de um Abíkú, não pode correr sangue.
O
conceito de Abíkú deve ser reavaliado por nossos sacerdotes, já que
este fenômeno ocorre em todas as partes do mundo e é necessário que
nossos líderes religiosos não só o conheçam e compreendam profundamente,
como possuam também, condições de solucioná-lo, sem mistificações,
através de uma prática ritualística simples, mas muito efetiva.
É
necessário, acima de tudo, que, uma vez contata a presença de um
espírito Abíkú, os pais e as mães sejam informados de forma correta, sem
medo ou repulsa e sem nenhuma conotação de perversão ou depravação
espiritual, o que, sem dúvida, poderá ser obtido com muita fé e devoção
aos Orixás.
Os Abíkú são na verdade,
espíritos que provocam a morte das crianças em que estejam encarnados,
ou seja, que provocam a própria morte. A palavra de origem yoruba pode
ser literalmente traduzida como: "Nós nascemos para morrer".
A
ação do Abíkú encarnando-se sucessivas vezes em crianças geradas por
uma mesma mulher e provocando sua morte durante a fase de gestação, ou
logo após o nascimento, mas sempre antes dos nove anos de idade, é tida e
havida como uma verdadeira maldição.
Sabemos que o espírito, já em
estágio de adiantada evolução, buscando acelerar ainda mais o processo,
provoca esse tipo de fenômeno que, se do ponto de vista espiritual pode
ser considerado benéfico, do ponto de vista material é visto como uma
desgraça que se abate sobre uma família, determinando dor e luto
constantes.
Os espíritos Abíkú formam um
grupo denominado Egbe Orun Abíkú, que habita no mundo paralelo que nos
rodeia, o Orun, morada dos deuses e dos antepassados.
No
Orun, termo que pode ser corretamente traduzido para céu, este grupo de
espíritos dividem-se em categorias, de acordo com o sexo, sendo que os
pertencentes ao sexo masculino são chefiados por Oloiko (Chefe do grupo)
e os de sexo feminino, por Iyajanjasa (A Mãe que bate e corre).
Na
sua vinda do Orun para o aiye (terra), os espíritos, também conhecidos
como Emere, estabelecem um pacto com Onibode Orun, o guardião dos
portais do Orun, condicionando sua permanência, no nosso mundo, a
determinadas exigências.
Através do pacto
formalizado, alguns destes espíritos determinam-se simplesmente, não
nascer, enquanto outros, determinados a voltar logo após seu nascimento,
morrem subitamente, quer seja por acidente, quer seja por doença, assim
que rompa seu primeiro dente.
Todos os
Abíkú são considerados espíritos infantis e possuem companheiros ou
amiguinhos mais chegados, com os quais costumam brincar no Orun. Logo
que uma destas crianças nasce, seu par começa a interferir na sua vida
terrena, aparecendo-lhe em sonhos ou atormentando-o de diversas formas,
para que não se esqueça do compromisso assumido, e que retorne, o mais
rapidamente possível, ao seu convívio.
Segundo
a lenda, os vieram à terra, pela primeira vez, na localidade denominada
Awaiye, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e seu chefe no Orun. O
grupo era formado por 280 espíritos que, parando no portal do céu,
fizeram diversos pactos, condicionando seu retorno a diferentes
situações, que variavam de acordo com a escolha de cada um. Desta forma,
alguns estabeleceram a data de sua morte para depois que vissem, pela
primeira vez, o rosto de suas mães; outros, para quando completassem
sete dias de nascidos; outros ainda, para quando começassem a andar;
alguns, para quando ganhassem um irmão mais novo; outros, para quando se
casassem ou construíssem uma casa. Aqueles que nascessem
comprometiam-se a não aceitar o amor de seus pais e, todos os presentes e
agrados recebidos, seriam inúteis para retê-los na Terra, ao passo que
alguns, se comprometeram, simplesmente, a provocarem seus próprios
abortos, não chegando sequer a nascer. Estabeleceram ainda que, se seus
pais adivinhassem seus rituais, roupas e oferendas, e, se em tempo hábil
os oferecessem, concordariam em permanecer neste mundo.
Determinaram
ainda entre si um ritual no qual, roupas, chapéus e turbantes tingidos
de osun, com valor simbólico de 1.400 cawrís, deveriam ser pendurados
nas árvores de um bosque especialmente consagrado para seu culto. Folhas
sagradas deveriam ser friccionadas em seus corpinhos já tingidos de
osun, shaworos seriam colocados em seus tornozelos, pequenas incisões
seriam feitas em seus corpos, e, através delas, pós mágicos de diversas
folhas, seriam inseridos como proteção. Com os mesmos pós, seriam
confeccionados amuletos de couro, denominados ondê, que deveriam ser
presos às suas cinturas. Alguns deles deveriam levar nos tornozelos,
argolas e correntes de ferro, para evitar que fugissem para o Orun e,
suas oferendas, conforme determinariam os Itan Ifá, seriam compostas de
cabras, pombos, galos, doces, diversos tipos de cereais, bebidas e
guizos, que deveriam ser entregues no bosque sagrado, soltas nas águas
de um rio, ou enterradas em suas margens. Somente assim, concordariam em
permanecer sobre a Terra.
Apesar disto,
se Iyajanjasa ou Oloiko insistissem em levar alguns deles de volta para o
Orun, seus corpos sem vida deveriam ser marcados com escarificações,
queimaduras ou mutilações, para que seus colegas do Orun, não os
reconhecendo, se negassem a aceitá-los no egbe. As mesmas marcas,
reaparecendo nos corpos que tomassem para renascer, serviriam para que
pudessem ser identificados e, imediatamente, submetidos aos
procedimentos mágicos que fariam com que prolongassem suas vidas.
Segundo
as tradições, o Ipori ao atingir elevado estágio de evolução, costuma
reunir-se em grupos, aguardando em copas de determinadas árvores
consideradas sagradas, situadas em trilhas existentes em alguns bosques.
A passagem de uma mulher de "corpo aberto", ou seja, em fase de
menstruação, é por ele esperada para que, através dessa "abertura",
possa estabelecer-se em seu interior, aguardando ali, que ocorra a
fecundação, quando então, aloja-se no embrião, dando início a uma nova
encarnação que poderá ser interrompida antes do total desenvolvimento do
feto, ou num período de nove anos após o nascimento, conforme seja o
seu plano de mais rapidamente processar sua evolução.
A
ocorrência de abortos sucessivos, ou a morte dos filhos ainda pequenos,
configuram-se como sintomas da presença de um Abíkú e, contatada essa
presença, a mulher afetada deve submeter-se a um complexo tratamento
espiritual, tendo que reunir-se a um grupo denominado Egbe Obá, onde é
praticado um culto específico a Abíkú.
Como
parte integrante do Egbe Obá, a mulher passa por uma série de
procedimentos ritualísticos que visam garantir o nascimento de seu
próximo filho, não por intermédio da expulsão do Abíkú alojado em seu
corpo, mas através de sua concordância do mesmo em nascer e continuar
vivendo no corpo em gestação, por um período correspondente à média
normal de vida humana.
Um babalawo,
especialista no trato com, indica o ebó que irá garantir o nascimento
com vida do próximo filho da mulher em questão, mantendo-o vivo,
retendo-o sobre a Terra e rompendo, definitivamente, sua ligação com o
Orun.
Iniciado o tratamento espiritual, a
mulher tem o corpo, principalmente o abdome, esfregado com folhas
sagradas, toma banhos e chás das mesmas folhas e passa a cuidar de uma
entidade feminina chamada Egbe Eleriko, que atormenta as crianças
durante o sono, produzindo marcas e ferimentos superficiais em seus
corpos.
Um assentamento de Egbe Eleriko é
feito em sua casa, onde, anualmente, serão oferecidos sacrifícios de
animais, com toques, cânticos e danças ritualística.
Esta entidade tem que ser cultuada permanentemente e, a cada cinco dias, cabaças com oferendas lhe é oferecida num rio.
Dentro
destas cabaças são colocados ovos, obís, favas bejerekun, akasá,
bananas, doces, inhame, acarajés, cana-de-açúcar e penas ekodidé, tudo
em número de seis. A cabaça é fechada e, depois de colocada dentro de um
saco, é entregue nas águas de um rio, acompanhada das seguintes rezas:
1 - Egbe, afável mãe, apoio suficiente para os que a cultuam.
Aquela que usa roupas de veludo e que, elegante, come cana-de-açúcar nos caminhos de Oyó.
Aquela que gasta muito dinheiro comprando azeite de dendê.
A que está sempre fresca e que possui muito óleo, que utiliza para realizar milagres.
Aquela que tem dinheiro para luxo, a linda.
A que sucumbe ao seu marido, como a uma pesada clava de ferro.
Aquela que possui dinheiro para comprar, mesmo as coisas mais caras.
2 - Por favor, permita-me usar um ojá.
Por favor, permita-me possuir um ojá.
Um ojá é o que usamos para prender uma criança às nossas costas.
Eu posso, a cada cinco dias, cultuar Egbe.
Mãe Egbe, que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias.
Apesar
de atormentar as crianças, Egbe Eleriku tem o poder de dar filhos e
fortuna às mulheres que a cultuam e nem todas as crianças são por ela
perseguidas.
Um oriki de Egbe Eleriko, recolhido em Ibadan, demonstra
a ligação acima referida, e serve como uma súplica feita pelas mulheres
que, sob sua proteção, desejam filhos sadios e livres da praga.
Mãe proteja-me e eu irei ao rio.
Não permita a abíku entrar em minha casa.
Mãe proteja-me, eu irei ao rio.
Não permita que uma criança maldita venha à minha casa.
Mãe proteja-me, eu irei ao rio.
Não permita que uma criança estúpida siga-me até minha casa.
Olugbon morreu e deixou filhos no mundo.
Aresá morreu e deixou descendência.
Olukoyi morreu e deixou descendência.
Não permita que eu morra sem ter tido filhos.
Eu não posso morrer de mãos vazias, sem descendentes.
Um
procedimento muito usado para constatar a presença do Abíkú, no caso de
falecimento de uma criança de menos de nove anos, faz parte de um
ritual durante o qual, o cadáver do pequenino, depois de lavado com
infusões de ervas sagradas, é marcado com cortes superficiais em
diversas partes do corpo, feitos com afiadas lâminas de aço. Através
destas escarificações são introduzidos alguns tipos de pós obtidos da
moagem de elementos naturais, considerados mágicos. Cortes mais
profundos são feitos no alto da cabeça e o lóbo de uma das orelhas é
extirpado. Um guizo de ferro fornecido pelo Egbe Obá é atado ao
tornozelo do cadáver que, só então, receberá sepultura.
A
próxima criança gerada pela mãe do falecido, se apresentar uma das
marcas feitas no cadáver de seu irmão, se possuir lóbo duplo ou
bipartido numa das orelhas, ou ainda, se possuir um sexto dedo num dos
pés ou mãos, estará caracterizando a presença do Abíkú, devendo ser
imediatamente submetida aos rituais que lhe preservarão a vida e que, da
mesma forma que os procedimentos relativos ao cadáver de seu falecido
irmão, só podem ser ministrados por um sacerdote do culto de Ifá,
Babalawo consagrado e especializado neste tipo de ritual.
Assegurado
o nascimento da criança, e tendo esta efetivamente nascida com vida,
deverá então ser submetida aos rituais propiciatórios, para que o
espírito permaneça naquele corpo, com a garantia de que será aquela a
sua última encarnação.
Um ebó será
preparado, com um pedaço de tronco de bananeira vestido com roupas e
gorros tingidos de osun e bordados de búzios e guizos. Pendura-se tudo
nos galhos de uma árvore e, no chão, arria-se, ao redor do tronco,
pratos ou alguidares de barro contendo inhame, acarajé, ekurú, akasá,
canjica, doces, frutas, bebidas, folhas ritualísticas, tudo bem coberto
com mel de abelhas. Uma cabra, um pombo e um galo são sacrificados e
arriados no local, onde permanecerão por algum tempo. Depois,
embrulham-se os corpos dos animais sacrificados num pano branco,
cobre-se com bastante pó de efun, amarra-se e enterra-se nas margens de
um rio, ou despacha-se nas águas, de acordo com a orientação obtida
através do oráculo.
Na confecção do ebó,
não são utilizadas rezas ou cânticos, sendo exigida, isto sim, a
presença dos pais do Abíkú, que deverão saber o objetivo do ebó. As
mesmas folhas oferecidas no sacrifício serão utilizadas em banhos e na
confecção de pós mágicos que serão esfregados nas incisões do Abíkú e na
preparação do amuleto ondê, que deverá acompanhá-lo pelo resto da vida.
As folhas têm que ser consagradas antes de sua utilização e, para isso,
possuem ofós específicos, que ressaltam suas qualidades e funções.
Estas são as plantas sagradas dos, utilizadas em seus rituais:
- Abirikolo - Corresponde, no Brasil, à cascaveleira, também conhecida como amendoim-do-mato, ou ainda, xekeré.
- Agidimagbayin - walteria americana - Folha de veludo, erva de soldado.
- Idi - Amendoeira.
- Ija - Osun - Bixa orellana, Lin.
- Lara pupa - Mamona vermelha.
- Olobutoje - Pinhão-da-Bahia.
- Opa emere - Dobradinha-do-campo.
Estes são os ofós de consagração de cada folha:
Abirikolo: Ewe abirikolo, insinu Orun e pehindá. (Folha abirikolo, coveiro do céu, retorne).
Agidimagbayin:
Ewe agidimagbayin, Olorun maa ti kun, a a ku mo. (Folha agidimagbayin,
Olorun fecha as portas do Orun para que não morramos mais).
Idi: Ewe idi lori ki ona Orun temi odi. (Folha idi, diga que o caminho do Orun está fechado para mim).
Lara pupá: Ewe lara pupá ni osun a won abíkú. (A folha lara pupá é o cânhamo).
Olobotuje: Olobotuje ma je ki mi bi abíkú omó. (Folha de olobotuje, não me deixe parir filhos).
Opa emere:
Opa emere kipe ti fi ku, yiomaa ewu ni, nwón ba ri opa emere. (Galho de
emere não permita que eles morram - a vara de emere os apazigua).
Formalizado
o pacto, a criança viverá normalmente, como qualquer ser humano, só
devendo morrer em idade bastante avançada. Acredita-se que os seres
humanos dotados de espírito Abíkú, talvez pelo alto grau de evolução de
seu Ipori, são dotados de muita inteligência e, no decorrer de suas
vidas, transforma-se em verdadeiros líderes, dedicados ao bem estar de
sua comunidade e principalmente dos seus familiares.
Às
crianças Abíkú que conseguem sobreviver, são dados nomes específicos
que fazem referência à sua especial condição de nascimento. Isto deverá
ocorrer sempre, no sétimo dia depois de seu nascimento - se for menina,
ou no nono dia - se for menino. No caso de gêmeos, os nomes serão dados
no oitavo dia após o nascimento. Esta festividade que comporta um ritual
é denominada Ikomojade, e tem por finalidade principal, dar aos Abíkús,
nomes que desestimulem sua volta ao Orun, alguns dos quais, com seus
respectivos significados em português, relacionamos em seguida:
Malómo - não vá embora novamente
Kosokó - não existe mais terra- a terra acabou
Banjokô - sente-se e fique comigo
Durosimi - espere para me enterrar quando eu morrer
Jekiniyin - permita que eu tenha um pouco de respeito
Akisotan - não existe mais mortalha para o sepultamento
Apara - aquele que vai e vem
Okú - o morto
Igbe Koyi - nem a floresta quer você- a selva rejeita essa criança
Enú- Kún-Onipê - o consolador está cansado
Tijú-Icú - envergonhe-se de morrer
Buro-Orí-Iké - fica, espere e veja como serás mimado
Aiye Dun - a vida é doce
Aiye Lagbé - ficamos no mundo
Age Igba - que a riqueza não se perca
Ajuki - o morto viverá
Apaara - frequenta minha casa
Ayomu mo - vai pra o céu e volta
Bajoko – senta-se ao meu lado
Duro – me atende e fica
Duro Joyé – continua a gozar a vida
Sinmi – é difícil ficar enterrado
Shome – difícil fazer as crianças permanecer
Toyé – se ficares, receberás homenagens
Wojú – difícil olhar para os meus olhos
Ebe Loko – implora pra ficar
Ení Lolobo – alguém partiu e voltou
Inu Kuno naipe – estou cansado (a) de receber pêsames
Ikú Faryin – a morte perdoa
Iletan – está acabado
Kike – indulgente
Kaje Yu – não é aceito pra morrer
Kokun – não morras mais
Koni Bi Re – não vai lá
Kosile – não vai enterrar mais
Ifari – chamemo-lhes
Kosoko – não vai cruzar o túmulo
Kumipayi – Kuti – a morte não mata mais este aqui
Maku – não morre mais
Matnami – não larga mais a vida
Obi Mesan – não vingarás
Ikú Okura – a morte é apenas um nome
Oku se Hiyn – o morto que retorna
Amatunde – o menino que retorna
Orun Kun – o céu está cheio
Ratini – suporta-me
Tomi Mowo – quem sabe como cuidar
Tijuiko – vergonha da morte
Jekin-niyin – me dá seu preço
Akuji – o que está morto, desperta
Omotundé – a criança voltou.
Como
se vê, os nomes abíkú renegam a morte e a possibilidade de retorno ao
Egbe Orun. Ressaltam a vida e o quanto é bom desfrutar das coisas
existentes sobre a Terra, principalmente o amor dos pais e irmãos. Estas
crianças devem ser chamadas, sempre, por estes nomes, o que ajuda o
rompimento definitivo do seu vínculo com o grupo Emeré.
Periodicamente
oferecem-se comidas ritualísticas às crianças Abíkú, o que acontece,
invariavelmente, por ocasião de seus aniversários natalícios, produzidas
principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante
estes festivais, os espíritos Abíkú se apresentam e, ao participarem do
evento, são apaziguados.
A noção do Abíkú
existe em quase toda a África negra, variando apenas na forma de
tratamento deste fenômeno. Vários povos mantêm a mesma crença, embora
dêem a eles, nomes diferentes. Os igbos os chamam de ogbanje, eze-nwany,
agwu ou ainda, iyi-uwa-ogbanje. Entre os nupe, são conhecidos como
kuchi ou gayakpeama. Os fanti os conhecem pelo nome de kossamah, os akan
pelo nome de awomawu, e os haussa chamam-nos de danwabi ou kyauta.
Também
entre os povos bantu, originários do Sul da África, encontramos os uafú
zá kuíza, cujos funUm Itan de Ifá revela, por intermédio do Odu Irosun
Meji, um sacrifício específico para garantir o nascimento de uma
criança:
Nibi ti a gbe Agbalagba Osá
L'eri ate,
Osá w'pe k'a ru ebo.
Opé kan sekìsekì
Babalawo Egà L'o da f'egà
Egà l'o da f'Ega. Egà nf'omi je sogbéré omo.
Ha ! nwon ni ki Egà ó ru ebo:
Nwon ni ki Ope ó ru ebo.
Nwon ni nwon ó se awo.
Nwon ni ki awo nã
Ki nwon o le san òre rì fun.
Ope ni howu !
Eni o ba s'ore fun,
Eti she ti o fi ni se ore f'on ?
Ope o ru.
Egà, on ti se t'on le'i bí mó ?
Won ni k'o ru ebo.
kil'on ru ?
Nwon ni e r'egba merinlaã;
K'o ru aso ara e,
Egà ru'bo;
Egà bere s'omo bi.
Nigbati egà o wa ni aso l'ara ma,
Awon omo ni, kini a gba aso l'owo re ?
Ol'ope ni.
l'awon omo ba bere si imo Ope ya;
Ni nwon ba nlo f'aso Ope ya,
Ni nwon fi nko'le.
Nibi ti egà o je ki Ope o gbadun ma,
Ti nwon nya ewe re,
Ti nwon nlo fi ko'le l'oni nu.
Egà ni nwon njo, ni ny'o;
Ni nyin awon awo,
L'awon awo nyin, Sà
Pe be ni awon awo t'on senu re wi.
Ope kan sekiseki
L'o da fegà.
Egà nf'omije se beré omo.
Ope sekiseki. egbi mo tan
o ni ri mò bo'ra.
Osá pe ire aje.
Nibi ti àá gbe gbodo lo
Aso t'a ba gba n'be nu.
A gbodo lõ;
Aso nã, a fi t'ore ni.
B'Osa ti wi nu.
TRADUÇÃO:
Quando as divindades mais velhas surgiram na bandeja,
Os Orixás disseram que devemos oferecer sacrifícios.
Uma Palmeira Repleta de Muitas Folhas
O adivinho de Ave Tecelã da Aldeia foi quem consultou para o pássaro.
Ave Tecelã da Aldeia implorava por filhos.
Ha! Eles disseram que a ave deveria oferecer um sacrifício.
Eles disseram que as marcas deveriam ser cuidadosamente observadas.
A Palmeira disse: "O que? A qualquer um eu trato gentilmente,
Por que não são gentis comigo?"
A Palmeira não fez o sacrifício.
Ave Tecelã da Aldeia, por que não tratar gentilmente o filho do urso ?
Eles disseram que ela deveria oferecer um sacrifício.
O que ela deveria oferecer?
Deveria oferecer vinte e oito mil búzios.
Deveria oferecer a roupa que estivesse vestindo.
Ave Tecelã da Aldeia ofereceu o sacrifício.
Ave Tecelã da Aldeia começou a gerar filhos.
Quando não tinha mais roupa no corpo,
Seus filhos perguntaram: "Quem tomou a tua roupa?"
Ela disse - "Foi a Palmeira".
Seus filhos começaram a rasgar as folhas da Palmeira.
Eles rasgaram a roupagem de folhas da Palmeira.
Eles construíram seus ninhos com elas.
É por isso que os pássaros
Nunca deixam as palmeiras em paz,
Estão sempre se movimentando entre suas folhas.
Ave Tecelã da Aldeia dançou, ela ficou feliz;
Ela louvou as Divindades,
E as Divindades louvaram Oxalá,
Porque seu adivinho foi capaz de falar a verdade.
Uma Palmeira Repleta de Muitas Folhas
Foi aquele que consultou para Ave Tecelã da Aldeia.
Ave Tecelã da Aldeia suplicou por filhos
E não encontrou folhas para vestir o seu corpo.
Orixá diz - "Alegria do dinheiro,
Isso é coisa que não desfrutamos,
A roupa que recebemos como sacrifício
Nós não devemos usar.
“Nós devemos distribuir a roupa como um dom”.
Foi isto que Orixá disse!